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OPINIÃO: Muquiranas

Em São Paulo, um prédio público de propriedade da União e cedido àquele município, projetado na não tão distante década de 1960 e tombado pelo poder público como patrimônio histórico e arquitetônico, foi desativado, abandonado e invadido, sem qualquer tipo de resistência, por parte das autoridades, tudo porque alguma mente iluminada achou que seria muito custoso fazer a manutenção do prédio e dar uma utilidade ao imóvel. O resultado disso, todos sabemos: o prédio pegou fogo e veio ao chão numa tragédia anunciada.

Em 2014, a Organização Mundial de Saúde (OMS) fez publicar relatório apontando que cada dólar investido em saneamento básico representa uma economia de 4,3 dólares em custos para a saúde. No entanto, graças a inteligências elevadas, no ano de 2017, apenas 50,3% da população brasileira conta com coleta de esgoto e 83% da população desfruta de água encanada.

No ano de 2017, o orçamento da Polícia Rodoviária Federal foi reduzido em 44%, o que fez com que, na época, fosse suspensa a expedição de multas de trânsito. Estimativas dão conta de que entre 2011 e 2017 foram arrecadados R$ 2,5 bilhões em multas aplicadas pela PRF a motoristas potencialmente causadores de acidentes, valor que obviamente será reduzido daqui para frente.

Ainda por conta desse corte no orçamento da PRF, os patrulhamentos foram suspensos no Estado do Mato Grosso do Sul, um dos principais corredores do tráfico de drogas no Brasil. Os policiais rodoviários, que antes percorriam cerca de 400 km por dia e faziam 80% das apreensões em operações no curso da estrada, passaram a ficar restritos a seus postos. Sem patrulhamento, perde o motorista, perde a segurança das cidades, ganha o ladrão de carga e ganha o traficante.

Aliás, o orçamento do Sistema Integrado de Monitoramento de Fronteiras (Sisfron), vital para o combate ao tráfico de drogas e de armas, foi reduzido de R$ 285 milhões para R$ 132 milhões de 2016 para 2017. Em 2018, mais de R$ 1 bilhão foi gasto numa estapafúrdia intervenção federal, só para tentar amenizar a situação no Estado do Rio de Janeiro.

Isso tudo ocorre porque nosso serviço público está tomado por muquiranas, que não conseguem distinguir gasto de investimento. Não percebem que a gestão da coisa pública exige, sim, aporte de recursos e que responsabilidade fiscal não significa apenas tesourar o orçamento. Não há nas cabeças pensantes que ocupam os altos cargos deste país qualquer cuidado com os resultados ou consequências de seus cortes desorientados.

Reduzir gastos é necessário, sabemos disso. Ninguém aqui é tolo de defender posturas perdulárias ou irresponsáveis. Porém, economia exige ciência e, sobretudo, planejamento. Qualquer coisa diferente disso é pirotecnia inocente ou mal intencionada. Ser muquirana não é ser econômico. Ser muquirana é ser inconsequente. Nada tenho contra os muquiranas. Só não os quero gerenciando serviços públicos.

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